Já aqui falei do livro "O meu avó" , acerca do seu lançamento.
Hoje partilho aqui a recensão sobre o mesmo publicado nos CEI nº 101, com capa, precisamente da ilustradora Catarina Sobral
O Meu Avô”, Catarina Sobral,
Orfeu Mini (2014)
Depois dos anteriores livros “Greve” (2011) e “achimpa”
(2012), ambos ricos de jogos visuais e linguísticos, também editados pela Orfeu
Mini, Catarina Sobral contempla-nos com um novo livro: “O meu avô”.
Desta vez num formato gráfico
diferente dos anteriores, para mãos mais pequenas, o que não invalida que mãos
maiores lhe peguem e com ele se seduzam, quer através da narrativa dos afetos num
deslumbramento estético de referências visuais, com que presenteia o adulto mais atento.
O seu formato contrasta com a dimensão do valor afetivo que transporta. Em poucas
palavras, num jogo de texto aparentemente singelo, reflete o muito sobre o conceito de tempo e o que dele
fazemos. Num desafio de diferenças e semelhanças entre as rotinas de dois
personagens (avô e Dr. Sebastião, que vivem no mesmo prédio) deambula o
discurso narrativo. Vidas aparentemente opostas revelam-se na circularidade das
páginas, no efeito cromático das cores. Alude-se sempre ao avô, mesmo quando as
imagens nos mostram o Dr. Sebastião. Entre contradições e ironias, texto e ilustração ornada de
movimento se esbatem as personalidades dos personagens.
Continuando as zelosas
referências gráficas e linguísticas, Catarina Sobral entrega-nos um retrato de
um avô narrado pelos olhos de um neto. A singularidade narrativa apela a
referências artísticas de piscadelas de olho ternurentas a Jacques Tati,
Fernando Pessoa, Almada Negreiros ou
Édouard Manet.
(“o meu avô
escreve ridículas cartas de amor…” “Faz vários piqueniques na relva, durante a
semana…”)
Uma ode ao tempo e aos afetos, a
singularidade narrativa numa dimensão imensurável. O contacto com este livro
pode e deve causar efeitos secundários a nível de ternura, recomendo pois achimpadamente este livro.
De salientar que a
autora/ilustradora Catarina Sobral foi premiada com o
livro “achimpa” como Melhor Livro Infanto-Juvenil pela Sociedade Portuguesa de
Autores; Melhor Ilustração de Livro Infantil no Festival BD Amadora e
Menção Especial no Prémio Nacional de Ilustração.
Sendo a única ilustradora de
nacionalidade portuguesa selecionada, venceu o prémio internacional de
ilustração na mostra internacional de ilustradores da Feira Internacional do
Livro Infantil de Bolonha de 2014, precisamente com cinco imagens desta última obra,
“O meu Avô”.
Estamos obviamente honrados
com este prémio e os CEI felizes por poder contar com as suas ilustrações neste
número.
Elvira Cristina Silva
in: CEI nº 101
(Capa de Catarina Sobral)
Sem comentários:
Enviar um comentário